Vamos começar por falar um pouco sobre o nosso percurso até chegarmos ao "unschooling". Quando e como é que descobriste o "unschooling" e, mais especificamente, o "radical unschooling", Alex?
Alex Polikowsky (AP): Quando o meu primeiro filho tinha uns 2 meses de idade, eu queria comprar um livro sobre bebés e, por muita sorte, comprei o livro do Dr. Sears e sua esposa Martha. O livro dedica-se a ajudar a criar bebés com "Attachment Parenting". Eu já estava a praticar "Attachment Parenting" instintivamente, mas veio solidificar a ideia e os princípios dessa abordagem. Uns meses depois, eu estava no computador e fiz uma pesquisa por "natural parenting" e cheguei ao website da Jan Hunt chamado "The Natural Child Project" (naturalchild.org). No seu site, tem artigos sobre "unschooling", que ela praticou com o seu filho, e eu pensei comigo "Quero fazer isso". Algum tempo depois, descobri os websites da Sandra Dodd (sandradodd.com) e da Joyce Fetteroll (joyfullyrejoycing.com) e descobri os grupos de discussão sobre "unschooling" no Yahoo.
Marta Pires (MP): O meu percurso foi parecido, de certa forma. Os primeiros meses depois da Constança nascer foram dos mais bonitos da minha vida, mas, ao mesmo tempo, dos mais difíceis. Andava muito nervosa e tensa, dividida entre aquilo que me diziam que eu devia fazer e aquilo que eu queria fazer (nomeadamente, em relação à amamentação, ao baby-wearing, ao co-sleeping e por aí fora; ou seja, eu queria dar de mamar quando ela pedisse, mas diziam-me que ela ia fazer da maminha chucha, eu queria andar com ela ao colo, mas diziam-me que não devia porque ela se ia habituar e nunca mais ia querer outra coisa, etc.). Algo não batia certo e foi isso que me levou à procura de mais informação. Por acaso, uma pessoa conhecida (hoje amiga), a quem tinha ido comprar um sling, recomendou-me um livro que viria a mudar a minha vida—"The Continuum Concept" da Jean Liedloff. Muito embora não concorde com as interpretações que fazem do livro e as ilacções que se retiram do mesmo actualmente, o livro foi, de facto, fundamental para me pôr em contacto com o mundo do "Attachment Parenting". Também eu comprei os livros dos Sears e andei muito pelo site da Jan Hunt. Aliás, foi no livro dela— "The Natural Child"—que primeiro vi o "homeschooling/unschooling" associado ao "Attachment Parenting". Li algumas coisas sobre o John Holt e, algures no meio das minhas pesquisas, encontrei o nome Sandra Dodd e o seu precioso site.
A partir daí, mergulhei por completo no "unschooling" e procurei inscrever-me no máximo número de fóruns de discussão possível. Queria muito perceber como é que isto se fazia e se eu conseguiria fazê-lo, não só porque me parecia uma extensão lógica dos princípios do "Attachment Parenting" para lá dos primeiros tempos de vida da criança, mas também porque havia algo que estava muito claro para mim: eu queria ajudar a minha filha a crescer e a chegar à idade adulta sem estar emocionalmente "danificada". Desliguei-me das discussões associadas ao "The Continuum Concept", porque não me sentia bem com o grau de controlo e com a crítica e o negativismo que transpiravam nas discussões do fórum ligado ao livro.
photo of Marta Pires, by Antonio Souter |
AP: Eu comecei a ler sobre o "unschooling" muito cedo e li muitos websites e livros (hoje há ainda melhores livros do que quando eu comecei). Para mim, lendo as discussões de grupos como o "Always Learning" da Sandra Dodd (https://groups.io/g/AlwaysLearning) realmente fez a diferença. Eu procurei ler sobre as pessoas que tinham filhos mais velhos e que estavam a fazer "unschooling" com sucesso. Famílias com filhos que eu gostei. Indo a uma conferência e observando como outros pais, famílias gentis e conectadas, lidavam com seus filhos foi muito bom também. Leia e pense se o que está lendo faz sentido. Eu procurei ler os autores que faziam sentido e eram claros nas suas palavras e ideias. Ler de autores que nao só falavam bem (escreviam bem), mas que também praticavam bem.
Fui fazendo um "deschooling" aos poucos, das minhas ideias pré-concebidas. Há autores que são claros e fazem sentido, outros você lê e lê, e apesar das palavras soarem bonitas, não dizem nada e não fazem sentido ou são confusas. Estes [últimos] eu descartei.
MP: Sim, também me aconteceu o mesmo, de certa forma. Quando descobri o "radical unschooling", fiquei tão entusiasmada que quis começar rapidamente a perceber bem em que é que consistia, de tal forma que comprei vários livros, inscrevi-me em vários fóruns de discussão (entre os quais, o "Always Learning" da Sandra Dodd). Li muito, mas, a dada altura, comecei a perceber onde é que podia encontrar os autores mais claros, mais coerentes, mais objectivos, mais consistentes, mais experientes e—um factor que pesou bastante para mim—os que já tinham filhos adultos e que já tinham passado pela prática do dia-a-dia. Curiosamente (ou não), os filhos destas mães "unschoolers" que vim a respeitar e admirar eram, de uma forma geral (e salvo as suas características pessoais), jovens e adultos emocionalmente sãos, responsáveis, generosos, simpáticos, etc.. Era isto que eu procurava para a Conchinha!
Os livros da Sandra Dodd (Moving a Puddle✽ e Sandra Dodd's Big Book of Unschooling✽) e os da Pam Laricchia (Free to Learn e Free to Live) estão agora no topo da minha lista de livros a ler. O blog e a newsletter da Pam também proporcionam leituras rápidas e que me fazem reflectir. Gosto de estar no chat semanal que a Sandra organiza—ainda esta semana me dei conta da importância de ali estar e de poder ler e interiorizar já tantos pormenores da vida em família e em sociedade que nem sempre transparecem de forma imediata nos livros e nas discussões. O site da Sandra continua a ser, para mim, uma fonte inesgotável de sabedoria—adoro ir ao "randomizer" e ler a página que me calha no dia!
Na ausência de poder ir a conferências aqui em Portugal, porque o próprio tema ainda é novidade (ainda equacionei ir a Londres ouvir a Sandra no ano passado, mas depois ela aceitou o convite para vir a Lisboa e eu comecei a investir no simpósio cá), os fóruns de discussão é que me ajudaram e continuam a ajudar a entender cada vez melhor como é que o "radical unschooling" se traduz na prática. Saí de alguns fóruns, não só porque não tinha tempo para tantas leituras, mas também porque preferi apostar nos locais que ganharam a minha confiança: o "Always Learning" e o "Unschooling Basics", este último da Joyce Fetteroll—estas são as minhas "fontes de informação" de eleição!
Quando e como é que o teu pensamento começou a mudar? O que é que te ajudou?
AP: O meu pensamento começou a mudar no dia em que o meu filho mais velho nasceu e eu tive muita sorte de ter encontrado livros e websites que me levaram a ser uma mãe mais conectada e amorosa com o meu filho. O que me ajudou foi estar aberta a ideias novas, ideias muito diferentes. O que me ajudou foi o facto do meu filho ser a prioridade para mim. O que me ajudou foi ver o meu filho como uma pessoa de verdade e real.
MP: Penso que a minha mudança se começou a operar logo nos primeiros meses de vida da Constança, de forma muito gradual, no meio da tensão em que andava por querer fazer uma coisa e as pessoas à minha volta quererem que eu fizesse outra. Eu queria amamentar e as pessoas diziam-me "tu não tens leite, por isso é que ela chora tanto; é melhor passares para o biberão"; eu queria dormir com a minha bebé e as pessoas diziam-me "não deves fazer isso! vais prejudicá-la a longo prazo!"; eu queria pegá-la ao colo e as pessoas diziam-me "não faças isso que ela fica mimada". Parece-me que a dissonância que isto criou em mim me motivou a procurar outras fontes de informação, felizmente.
A presença do Bruno, meu marido, ajudou-me muitíssimo, não apenas porque tratou da Conchinha muitas vezes quando eu não me sentia bem e não sabia o que fazer, mas também porque saber que ele estava ali, do meu lado, também ele à procura de respostas e disponível e aberto para aquilo que eu lhe trazia, foi fundamental. Sem esta presença não sei se as coisas teriam corrido da mesma forma...
Mais tarde, posso afirmar com toda a certeza que a grande razão por detrás da minha mudança foi e tem sido o fórum de discussão online da Sandra—o "Always Learning". Já afirmei isto várias vezes, e continuarei a afirmar para quem quiser ouvir, que nem cinco anos de terapia fizeram o que as leituras diárias das discussões que ali acontecem, e as reflexões que daí advêm, têm feito ao longo dos últimos dois anos e meio.
Também tens esta ideia sobre o fórum "Always Learning" e as suas potencialidades quase terapêuticas?
AP: Com certeza. Eu aprendi muito lá e ainda aprendo todos os dias. Foi através deste fórum e das discussões nele que as minhas ideias se clarificaram. Eu aprendi a parar e pensar antes de dizer algo e de agir, em todos os sentidos da minha vida.
As palavras são muito importantes e coloram o nosso pensamento e as nossas percepções. Aprendendo a usar palavras claras quando falo, escrevo e penso, ajudou-me muito. Parar e pensar antes de agir, e falar e dissecar as ideias na nossa cabeça vai mudar a nossa vida em todas as áreas. Foi neste fórum que aprendi isso.
MP: A Sandra (e, possivelmente, também a Joyce Fetteroll e a Pam Sorooshian, entre outras mães "unschoolers" experientes que escrevem no "Always Learning") diz muitas vezes que as nossas palavras espelham os nossos pensamentos, os quais, por sua vez, podem revelar as nossas emoções mais inconscientes, e, portanto, o exercício de palavra que este tipo de fórum nos propõe consegue, efectivamente, ter efeitos profundos, como já li tantas e tantas vezes em testemunhos de pessoas que aplicaram as sugestões que lhes eram feitas às suas vidas e que passaram a ter vidas muito mais felizes e tranquilas (eu própria incluída!).
Uma das coisas engraçadas que tem acontecido comigo (e que sei que acontece com outras pessoas que lêem no "Always Learning") é que, apesar de nem sequer colocar muitas questões no grupo (acho que enviei um ou dois e-mails com perguntas, ao longo de dois anos e meio), a leitura diária de outras discussões tem-me permitido recolher muita, mas mesmo muita informação (a qual pode, à partida, parecer não estar relacionada com nada, mas o que é certo é que o cérebro a armazena e mais tarde essa informação liga-se a outra nova informação e faz-se luz—o tal "aha moment"). Tem-me permitido, ainda, fazer outra coisa interessante: observar e detectar esses padrões emocionais e de comportamento reflectidos nas palavras de quem escreve, sendo que consigo, cada vez com maior precisão, identificar quando as pessoas estão a resistir e não estão a aplicar o que é sugerido ou o contrário, incluindo a minha própria pessoa. Gradualmente, estou a conseguir ver com muito maior clareza a forma como o ser humano funciona e isso tem sido muito motivador para mim, dado que é uma área que me interessa particularmente.
A Sandra conseguiu criar outra coisa muito interessante, do meu ponto de vista (com a preciosa ajuda da tecnologia da nossa era): uma rede mundial de pessoas que se conhecem virtualmente através do seu fórum, dos seus chats, do seu grupo no facebook, e que depois se "encontram" e criam até amizades fora desses circuitos, via skype ou outro tipo de chats ou até mesmo em pessoa! Todos estes instrumentos têm-me permitido conhecer, de forma mais íntima (porque depois as vou acompanhando nessa maravilha que é o facebook), famílias com quem nunca me iria cruzar na vida, dado que eu vivo em Portugal e a maioria das pessoas que escrevem nos fóruns em que estou inscrita vivem nos EUA, Canadá, Austrália, Inglaterra, etc., ajudando-me a reforçar a minha convicção de que este é o caminho que quero seguir com a minha família. Se não fosse esta teia de fios positivos, amorosos, pacíficos, gentis, respeitadores, íntegros, tecida de forma tão generosa pela Sandra, pela Joyce, pela Pam, espalhada pelo mundo fora, nunca te teria conhecido, Alex! Lembro-me de te perguntar um dia, no skype, em tom queixoso, porque é que estávamos todas espalhadas pelo mundo e de tu me teres respondido que era necessário que assim fosse, para tocarmos a vida de mais e mais pessoas.
Para mim (e para os portugueses e brasileiros em geral, diria), creio que tem sido vantajoso o facto de te ter conhecido, primeiro porque és brasileira e falas português, mas também porque já resides há muito tempo nos EUA (há quanto tempo mesmo?) e porque já fazes “unschooling” há algum tempo. A maior parte da informação que existe sobre o "radical unschooling" está em Inglês—achas que isto pode ser um obstáculo, ou não serão estas ideias universais e, portanto, traduzíveis para outras línguas? A tua ajuda nas traduções livres que têm sido feitas tem sido imprescindível, para nos assegurarmos de que a mensagem que a Sandra quer passar não é desvirtuada! Como já vimos, a questão da linguagem é fundamental...
AP: Já morei nos Estados Unidos e voltei ao Brazil algumas vezes, desde que tinha 16 anos. Da última vez que vim para cá foi em 1995. Eu acho que você Marta e suas traduções são muito importantes para que pais interessados no "unschooling" possam ter acesso a artigos escritos. Certamente há diferenças na linguagem—até eu ainda estou aprendendo a falar sobre o "unschooling" em Português, mas acho que é possível quando se tem alguém se dedicando às traduções como você, que entende o que é "unschooling".
MP: Eu penso que é fundamental que o conceito seja bem entendido, para quem quer que vá traduzir os textos, e, nesse sentido, tive sorte por compreender bem o inglês e algumas das suas nuances (muito embora não seja tradutora profissional; daí referir sempre que são apenas traduções livres e que todas as sugestões que nos permitam melhorar os textos, são bem-vindas).
De qualquer forma, parece-me possível criar todo um corpo de informação sobre o "unschooling" em português, à medida que a nossa própria experiência for aumentando (o que vai ser importante, dado que é impossível traduzir tudo o que a Sandra tem no site, por exemplo—cada link leva-nos a mais três links e por aí fora). A Sandra costuma dizer que, apesar de nós ainda termos filhos pequenos, se nos mantivermos fiéis a esta filosofia de vida, vamos ter muitos anos de experiência e que é precisamente daí que a experiência vem—tem de começar por algum lado!
Por falar em experiência, e como já tiveste oportunidade de dizer há pouco, as conferências são locais excelentes para encontrarmos pessoas mais experientes e para aprofundarmos o nosso conhecimento sobre o "unschooling". São momentos em que, muitas vezes, também temos a oportunidade de estar com adolescentes ou adultos que nunca foram à escola ou que fizeram "unschooling" durante alguns anos -- podemos ver na prática que adolescentes e que adultos são estes, como se comportam, o que fazem, etc. Sei que foste anfitriã de um simpósio chamado "Always Learning Live Minnesota" há muito pouco tempo, em que estiveram presentes a Sandra Dodd e a Jill Parmer. Podes contar-me como correu o simpósio? Que aspectos achas que foram relevantes para partilharmos com outras pessoas que podem um dia questionar-se se vale ou não a pena vir a um encontro deste tipo?
AP: Em 2007, eu fui ao "Live and Learn", que era uma grande conferência com "unschoolers" de todos os Estados Unidos e até de outros países. Nesta conferência, eu conheci muitas famílias "unschoolers" que eram maravilhosas e pude observar como elas se relacionavam entre si. Também observei jovens que foram criados desta maneira e como eles eram. Foi muito interessante e aprendi muito.
Não só isso, mas os participantes puderam participar activamente nas palestras e tiveram muitas oportunidades de perguntar aos palestrantes todas as dúvidas que trouxeram ou que tinham. Não há nada melhor do que poder estar cercado de outras famílias que estão praticando o "unschooling" bem e poder ter acesso a pessoas como a Sandra Dodd e a Jill Parmer para poder perguntar e tirar dúvidas.
O grupo de adolescentes que participaram eram maravilhosos. Eu fiquei realmente impressionada, de novo, com estes adolescentes e como eles se comportavam em todas as situações.
Uma experiência fantástica que eu acho imprescindível.
MP: E é uma experiência que nós vamos ter a oportunidade de vivenciar dentro de algumas semanas, aqui em Lisboa, já que a Sandra e a Joyce aceitaram o nosso convite para vir a Portugal! Quando a Sandra me disse que sim, que vinha, há um ano e tal atrás, eu nem quis acreditar! Quase pedi ao Bruno para me beliscar...
No entanto, penso que as pessoas em Portugal ainda não estão tão familiarizadas com a ideia do ensino doméstico enquanto alternativa à escola como nos EUA (apesar do ensino doméstico estar legalmente previsto há muitos anos, arriscaria dizer que é uma tendência recente, embora crescente), quanto mais com a ideia do "unschooling" (ainda para mais, estando este último dificultado, de certa forma, pela legislação que rege o ensino doméstico e que obriga a avaliações através de testes). É engraçado observar, por exemplo, que a maioria das famílias inscritas no simpósio de Lisboa tem filhos que ainda nem sequer atingiram a idade escolar, enquanto que, no vosso caso, já existem famílias com filhos adultos que nunca foram à escola, como as da Sandra e da Joyce e da Pam, e muitos adolescentes que também nunca foram à escola, como os que estiveram no Minnesota.
Mas temos de começar por algum lado, claro, daí que esteja já a pensar em organizar novamente algo deste tipo no futuro. Até já tinha falado com a Rippy Dusseldorp (que vive na Holanda) na possibilidade de organizar eventos "Always Learning Live" (obviamente, com a autorização e orientação da Sandra) com a Julie Daniel (residente em Inglaterra) com alguma periodicidade, à semelhança do que a Sandra faz aí, e variando o país anfitrião. Eu gostei da ideia e acho muito importante também -- o teu input só veio reforçar a minha convicção de que é um bom plano para o futuro!
A Sandra e a Joyce vão ficar em nossa casa durante alguns dias, depois do simpósio; sei que a Sandra e a Jill Parmer também estiveram na tua casa. Como é que correu a estadia delas? Como é que foi a experiência para os teus filhos? Já tinhas tido alguma família "unschooler" em tua casa?
AP: A estadia delas aqui foi muito boa. Divertimo-nos e rimo-nos muito. Elas são, em pessoa, exactamente como são no cyberspace, mas mais engraçadas!
Os meus filhos ficaram um pouco tímidos nos primeiros dias. O meu filho ficou muito zangado comigo num dia, mas não destratou as visitas. Eles foram o mais cuidadosos que puderam para não fazer barulho à noite, quando alguém foi dormir. No geral, eles estavam a fazer as coisas deles e nem saíram connosco para ir visitar uns lugares, preferindo ficar em casa com a minha mãe. O meu marido gostou muito delas também. Ele também é introvertido! Senti a falta delas quando se foram embora.
Eu já tive várias famílias de "unschoolers" ficarem aqui comigo e visitarem e foi sempre muito bom. Localmente, eu também conheço uma outra família e, em cidades próximas, mais algumas. A primeira família de "unschoolers" que conheci foi quando o meu filho mais velho tinha 2 anos. Somos amigos dessa família desde então.
MP: Há um mês atrás, conheci a minha primeira família americana de "unschoolers" -- a família da Jihong Larson! Muito embora tenhamos estado pouco tempo com eles, foi uma experiência muito boa e deu para experimentarmos a gastronomia de uma e de outra família. Gostei tanto de conhecer a Jihong; a Conchinha e a Makena (filha da Jihong), que nem falavam a mesma língua, brincaram juntas! Foi mesmo muito bom e eu quero repetir este tipo de encontros. Sinto que temos a vida toda à nossa frente, com inúmeras possibilidades, e é tão bom sentir isto.
Confesso que estou bastante empolgada com a vinda da Sandra e da Joyce a Lisboa (já falta tão pouco!), mas, ao mesmo tempo, nervosa porque quero muito que elas se sintam bem e que apreciem a estadia cá. Mas sabes que até a este nível as leituras sobre o "radical unschooling" me ajudaram? Tenho estado a planear tudo com bastante cuidado, tentando ter em conta as necessidades de todos (tanto quanto me é possível), para que a estadia delas cá seja harmoniosa, tranquila, prazeirosa -- para elas, para o Bruno, para a Conchinha e para mim. Também me sinto mais flexível, com capacidade para me adaptar às circunstâncias, sem perder a calma, entre muitas outras coisas.
De facto, o "radical unschooling" transcende a mera abordagem educativa -- é toda uma filosofia de vida que nos ajuda a sermos melhores pessoas e a contribuirmos para um mundo mais amoroso e pacífico. Mesmo que as famílias, no seu percurso, venham a ter os seus filhos na escola, esta é uma abordagem transformadora que oferece ideias que as pessoas podem adaptar às suas vidas, não te parece?
AP: Com certeza. Tudo na minha vida mudou com o "unschooling". Como eu vejo todas as minhas relações com o meu marido, amigos, pais e irmãos. Eu acho que a mudança de paradigma que o "unschooling" traz a uma pessoa transcende a questão da escola e da educação. Mesmo que os meus filhos escolham ir para a escola no futuro, não será o mesmo se nós não vivêssemos com os princípios e com as ideias que aprendemos com o "unschooling".
MP: Eu também não tenho a menor dúvida. No meu caso, a Constança (4 anos) ainda nem sequer atingiu a idade escolar e a minha vida já sofreu uma transformação tão profunda, na forma como eu me vejo e como vejo as pessoas à minha volta, que não há como voltar atrás. Não só todo o processo de mudança de paradigma acaba por ser uma forma terapêutica de nos (re)encontrarmos e (re)aprendermos tantas coisas, como também nos permite fazer melhor pelos nossos filhos, não contribuindo para perpetuar um modelo que, apesar de bem intencionado (por vezes), não é o que mais se adequa ao ser humano e às suas necessidades -- físicas, emocionais, etc.
Já tenho tantas ferramentas neste momento (e ainda vou no início da minha caminhada, seguramente) que, aconteça o que acontecer na minha vida, sei que vou estar melhor preparada. O meu olhar sobre a vida e sobre o ser humano mudou e é um olhar mais positivo, mais confiante e mais respeitoso. Quando estava a tentar especificar na minha cabeça que ferramentas seriam estas, para poder partilhar com as pessoas, lembrei-me do vídeo que a Sandra fez para a Teleconferência "Fazer a Vida Bem" (organizada pela Lisa Cottrell-Bentley), em 2012, e resolvi transpor para aqui algumas das ideias que me pareceram poder ser úteis para qualquer pai/mãe (retiradas da transcrição do vídeo, traduzida livremente para português):
Alex, só uma última questão: o que desejas para os teus filhos, para a tua família?
AP: Eu desejo que meus filhos sejam felizes e se sintam seguros. Que sintam que podem ser eles mesmos. Que se sintam apoiados no que fazem e gostam e nas suas descobertas. Que possam explorar o mundo em redor deles com os olhos e a mente aberta. Que a nossa família seja feliz e unida. É muito simples.
MP: E agora, disseste tudo! Felicidade, segurança, paz, doçura, confiança, alegria, aprendizagem, união, amor—não saberia dizê-lo melhor. É tudo o que desejo para nós também! Obrigada por esta troca, Alex.