Sandra Dodd traduzido por Marta Venturini Machado Ocasionalmente, a questão surge e, recentemente, apareceu de novo--a pergunta sobre como fazer "unschooling" exactamente. "Sem grandes discursos filosóficos", algumas pessoas pedem; "digam-nos apenas aquilo que temos de fazer". De todas as coisas no mundo que não funcionam assim, o "unschooling" deve estar nos dez mais. O "unschooling" e eu somos apenas e só discursos filosóficos. Uma das respostas mais verdadeiras e claras que posso dar, com frequência, é "depende", depois da qual muitos "se/então" têm lugar. Explicar o que é o "unschooling" é um pouco como "Vamos jogar ao truz-truz. Começa tu." Recentemente, cheguei a pedir às pessoas, num fórum de discussão online, para me darem o seu melhor conselho prático. Adivinhem quantas respostas recebi? Zero. Nenhuma. Por isso, pensei nas respostas que não obtive e pensei que as duas melhores respostas são "Tirem os vossos filhos da escola" e "Não comprem um currículo". Mas isso só não chega. Existe muito mais, contudo eu não vos consigo dizer exactamente o que é. Depois pensei noutra cíclica pergunta-de-resposta-tipo-"depende", e que é "Quanto tempo é que isto vai levar?" ou, mais especificamente, "Quantas horas devo passar com o meu filho?". E a resposta veio-me à cabeça. Tenho guardado segredo até agora. Eu pensei e pensei e até fiz um gráfico com uma recomendação quantificável, com a qual as pessoas podem preparar os relógios e os calendários. Uma mãe pode calcular hoje, agora mesmo, quanto tempo vai precisar de passar com o seu filho daqui a 10 anos. Não é uma questão inteiramente ligada ao "unschooling", mas é uma questão ligada à parentalidade, e aqui está ela: Quando um bébé nasce, antes de fazer um ano de vida, passem 23 horas por dia com ele, ou a pensar nele, ou a dormir com ele, ou com ele ao colo ou a alimentá-lo. Quando ele fizer um ano de vida, passem 22 horas por dia com ele (e gradualmente menos). Durante duas horas, talvez consigam tomar um duche ou dormir sem consciência de estar adormecidos. Deixem que esse tempo vá deslizando a um ritmo estável até ele ter dez ou onze anos de idade, e estão a passar metade desse tempo, 12 horas, com ele, em cima dele, na sua presença, a fazer coisas para ele ou com ele. Deslizem esse tempo mais um pouco para trás, de forma estável, até eles terem 20 anos, idade que o meu filho mais velho, Kirby, tem, e então uma hora por dia é suficiente. Não vale fazer batota. Se você não for diligente nos primeiros anos, o filho de 20 anos vai-se embora num repente ou pode ter começado a sumir-se tristemente. Se querem atingir o vosso objectivo, passem imenso tempo com os vossos pequenotes. Quando o Kirby fizer 21 anos, a minha obrigação terá sido cumprida. Bem simples, não? Fi-lo com uma régua e uma caneta de feltro. Assim já o tenho, quando as pessoas me perguntarem no futuro. Não contou os quadrados do gráfico, pois não? Ou perdeu muito tempo a pensar se um rapaz de 10 anos deve ter dez ou doze horas, ou talvez catorze horas? Porque aquilo não é um gráfico real, é só um esboço de um gráfico. O meu é apenas uma ilustração de um gráfico, para vos ajudar a pensar. ('tão a ver?) Suponho que alguns de vocês vão ter questões, tais como "e se tivermos gémeos", ou "e se tivermos três filhos". A resposta é simples. Encontram coisas que três pessoas possam fazer juntas, ou conversam com uma pessoa enquanto fazem o almoço ou põem a roupa a lavar ou arranjam as calças de ganga favoritas de uma terceira pessoa. Brincam no parque com uma, enquanto a outra está numa aula de dança. Levam toda a gente ao cinema e dormem que nem uns bébés à noite (isto se o seu mais novo tiver seis ou sete anos). O que quer que faça, torne-o divertido, interessante, reconfortante, memorável, fora do vulgar, familiar, alimento para a alma, produtivo ou relaxante. Se forem três ou quatro dessas coisas ao mesmo tempo, bom trabalho! Eu, por exemplo, passei uma hora com o Kirby ontem, em pequenos bocados ao longo de três horas. Conheci dois dos amigos dele que ainda não conhecia, dei-lhe um cd do Weird Al, e vi-o a ouvir algumas das faixas que sabia que ele ia gostar. Comi um brownie feito por ele! Dissemos piadas. Durante cada bocadinho desse tempo, a Holly também estava no quarto, por isso consegui um 2-em-1 em termos de tempo. Porque a Holly tem 14 anos, ainda preciso de estar em modo "mamã" pelo menos seis horas por dia, mas isso é muito fácil com três miúdos em casa. Na Quarta-feira trabalhei e fiz horas extra, porque a Holly e eu passámos o dia juntas, a maior parte do tempo na estrada, a conduzir quase até Taos para visitar familiares. Depois de oito horas juntas, ela declarou que tinha sido mágico, o que foi muito fixe. Se querem medir, meçam generosamente. Se querem dar, dêem generosamente. Se querem fazer "unschooling", ou ser pais atentos, presentes e conscientes ["mindful"], dêem, dêem, dêem. Vão ver que, após alguns anos, ainda têm tudo aquilo que pensavam ter dado, e mais ainda.
Dados biográficos à data daquela publicação, Outubro de 2006: A Sandra Dodd vive em Albuquerque com o seu marido marceneiro/escultor de madeira (arte medieval), tocador de flauta de bisel, cantor (que também é engenheiro) e os seus três filhos felizes, já graúdos, que jogam jogos, contam histórias, brincam, fazem perguntas, vêem filmes, visitam amigos e, de uma maneira geral, que se divertem e exploram a vida. O Kirby tem 20 anos e um emprego. O Marty tem 17 e tem um emprego. A Holly tem 14 e dorme muito, desenha, explora a internet, mascara-se e colora o cabelo.
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